Desde a eleição suplementar que, volta e meia, escuto deputado da base do governador Mauro Carlesse (PHS) reclamar do excesso de privilégios para o hoje líder da situação, Olyntho Neto (PSDB). Não só dele, mas as mesmas queixas se voltavam contra a presidente Luana Ribeiro (PSDB) e o vice-governador Wanderlei Barbosa (PHS). Um parlamentar chegou a chamar Olyntho de “porteiro do Palácio”. “Só chega ao governador quem ele quer”, alfinetou um dos insatisfeitos.
Pouco depois das eleições, o CT divulgou nota sobre o descontentamento de um grupo de aliados de Carlesse com essa situação. Segundo esses deputados, a isonomia de tratamento, inclusive, será, necessariamente, uma pauta para se discutir no processo de eleição da mesa diretora da AL.
Este, portanto, foi o maior erro político do governador desde que chegou ao Palácio ainda como interino. A decisão de exonerar o delegado Bruno vai contra todo o sentimento nacional de moralização da política
De repente, agora, aparece essa história da exoneração do ex-delegado regional de Araguaína Bruno Boaventura, que tem Olyntho como pano de fundo, uma vez que o pai dele foi alvo de uma operação na semana em que o “facão” do Leviatã ceifou as cabeças de 12 delegados regionais. Não só deles, mas também da servidora Cláudia Regina Sousa e Silva, gerente de Transparência e Combate à Corrupção, da Controladoria do Gasto Público e Transparência.
Quando se olha para o todo do Diário Oficial do Estado de sexta-feira, 16, no qual estão publicados os atos de exoneração desses e de centenas de outros servidores, além da mudança de nomes de pastas, o que chama a atenção é que a dispensa dos delegados regionais aparece como um jabuti: ninguém sabe como e por que está ali.
Por isso, é frágil a justifica do governo de que essas exonerações vêm no bojo das necessárias reformas que o governador Carlesse está promovendo. Não há um só ato que mostre a necessidade das exonerações dos delegados regionais em função dos ajustes. A Lei 3.404, publicada na última edição do Diário, com alterações na estrutura da máquina, trata da extinção de setores administrativos, mas não fala nada sobre os cargos de delegados regionais. Eles foram extintos? Isso justificaria. Se esses cargos de confiança fossem retirados da estrutura, tudo bem. Então, o governo passou a adotar uma outra forma de gestão regional para a Segurança Pública.
Mas não há nada disso nos atos publicados na sexta-feira. No sábado, 17, o Palácio emitiu uma nota de esclarecimento em que também não dá uma explicação específica sobre a necessidade de exoneração dos delegados regionais. Apenas vem com a justificativa genérica do ajuste que o governo está promovendo.
Assim, a pergunta continua no ar: por que os delegados regionais foram exonerados? Outros serão nomeados no lugar? Se vão, então, o Estado não economizará um centavo. Vai trocar seis por meia dúzia. E por quê? Os atos de sexta-feira não dão qualquer elucidação para esse questionamento. A mesma dúvida fica pendente sobre a gerente de Transparência e Combate à Corrupção.
Não entro na questão jurídico-policial, porque não é minha praia. Olyntho, seu pai e seu irmão – envolvido naquela história dos R$ 500 mil em dinheiro apreendidos na semana do primeiro turno das eleições de outubro – devem gozar da presunção da inocência. Se eles cometeram ou não algum ilícito cabe à Polícia juntar as provas, o Ministério Público, se assim entender necessário, apresentar a denúncia e à Justiça julgá-los. Minha praia é a política, e nesse campo, o governo Mauro Carlesse pegou o desgaste de seu líder na Assembleia e colocou-o na sala do Palácio Araguaia. E ninguém está entendendo o porquê de um governo que vem desfrutando de boa popularidade abraçar esse bode.
Até agora, Carlesse não tinha cometido nenhum erro que merecesse atenção, o que, inclusive, foi fundamental para a tranquila vitória que ele alcançou em outubro, como a coluna afirmava durante o processo eleitoral.
Este, portanto, foi o maior erro político do governador desde que chegou ao Palácio ainda como interino. A decisão de exonerar o delegado Bruno vai contra todo o sentimento nacional de moralização da política. Ainda que fosse plano do governo essa alteração, mesmo que sob a justificativa de uma reforma administrativa, não havia a mínima de necessidade de fazê-la neste momento, sob os efeitos de terremoto que passou por Araguaína dias antes e que ainda era sentido em todo o Estado.
Soou como uma afronta não só à Polícia Civil, mas à própria cidadania. Passou à sociedade a imagem de retorno do velho e superado coronelismo, que guardava seus territórios e se preservava de seus atos reprováveis se escorando em apoio político da Capital.
Todos os principais líderes com quem converso saem das reuniões com Carlesse animados. Dizem que sentem o governador verdadeiramente determinado a reequilibrar as contas do Estado e a colocar Tocantins de volta aos trilhos do desenvolvimento. Isso é uma excelente notícia, mas todo esse projeto pode ser jogado — desculpem o jogo de palavras — no lixo por um ato menor, não republicano e que possa agredir o espírito moralizante que está tomando conta do País.
Os atos do governo precisam ser coerentes com o discurso. Afinal, a mulher de César tem que parecer e ser honesta.
CT, Palmas, 19 de novembro de 2018.